A AGONIA ACABOU

Terminou o calvário de meu pai. Ele morreu no domingo a noite, as 23hs em minhas mãos...
No domingo de manhã, ele teve uma descompensação respiratória, foi colocado uma máscara de oxigênio. Estávamos todas nós ao lado dele: a Aninha, mulher dele, minhas duas irmãs e eu.
Como ele estabilizou, elas foram embora e eu fiquei com ele o dia inteiro. O trato era que a minha irmã voltasse e me "rendesse", assim eu poderia comer e fazer outras coisas, mas ele não apareceu, e eu fiquei lá sozinha. Lá pelas dez horas da noite a mulher dele me ligou e disse que ainda não tinha saído da casa da filha. E eu lá, com fome. Pedi que ela se apressasse. A enfermagem trouxe a inalação da noite, fiquei segurando para ele inalar. Ele já não mexia mais, não tinha forças para nada, já estava usando fraldas. Apesar que cada vez que eu ia ver se ele estava molhado, ele me olhava com a cara feia. Os poucos momentos de lucidez, ele tentava falar e não conseguia. Mas aquele olhar de: "não enche o saco, Sílvia", esse eu reconhecia de longe...
A respiração dele começou a diminuir, ficar mais fraca, chamei a enfermeira, perguntei se ele estava indo embora, ela afirmou que o pulso dele estava ficando fraquinho. Perguntou se eu precisava de alguma coisa, eu disse que se ela colocasse o biombo, protegendo ele dos olhares curiosos, fiquei lá, segurando a mão dele, vendo a respiração diminuindo, diminuindo, cada vez mais espaçada. A pulsação diminuindo. Enquanto isso eu orava, conversava com ele, orava, fazia carinho, orava. Até que ele foi embora. Não sofreu, não se contorceu de dor, como eu temia, não ficou aflito procurando ar, ainda bem.

Morreu dia 19 de outubro, um dia após meu aniversário.

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